Sociedade civil
OS PROBLEMAS DO NOVO CONCEITO DE SOCIEDADE CIVIL
Um primeiro e grave problema que emerge ao examinarmos esse conceito é a desarticulação dos nexos mais profundos do todo social, justamente o que é essencial na perspectiva marxiana. Como se dá essa desarticulação? Pela autonomização da esfera da política e conseqüente inversão das determinações mais essenciais da realidade.
Com efeito, tanto para os países mais desenvolvidos, como para os mais atrasados, o que é posto como modelo ideal? O pleno exercício da democracia, ou seja, a construção daquele espaço em que os indivíduos atinjam o seu pleno estatuto de cidadãos, sendo respeitados no exercício dos seus direitos e o Estado cumpra o seu “verdadeiro” papel de garantir as regras do jogo.
Ora, só se pode afirmar isso se esqueceu do caráter fundante que tem o capital em relação à democracia, à cidadania, aos direitos civis. Todos esses momentos são figuras, formas, expressões do capital e como tais vêem seu poder cessar justamente lá onde começa o poder do capital. Pensar a democracia como o espaço onde se podem resolver os problemas fundamentais da sociedade é esquecer as suas limitações essenciais, é atribuir-lhe um poder que ela não tem. Basta ver que, se por impossível, ela ameaçasse o ordenamento social posto pelo capital, seria imediatamente suprimida. Se isto é verdade em relação aos países mais desenvolvidos, o que dizer dos países em que a burguesia é incapaz de realizar a democracia burguesa na sua plenitude.
Significaria isso, então, menosprezar os aspectos positivos da democracia, preferir um “governo forte”, que suprima as liberdades civis, mas que resolva os problemas? De maneira alguma, mesmo porque essa é uma falsa colocação. Este “governo forte” nada mais é do que uma outra figura do capital, exatamente aquela que entra em cena quando a via do consenso democrático não mais funciona. Por isso mesmo, julgá-lo capaz de resolver os problemas sociais é uma tolice.
Não se trata,