socialismo utópico ao cientifico
Friedrich Engels
Prefácio à edição inglesa
O pequeno trabalho que o leitor tem diante de si fazia parte, originariamente, de uma obra maior. Em 1875, o dr. E. Duhring, docente da Universidade de Berlim, anunciou inopinadamente e com bastante alarido a sua conversão ao socialismo e apresentou ao público alemão não só uma teoria socialista minuciosamente elaborada, como também um plano prático completo para a reorganização da sociedade. Lançou-se, naturalmente, sobre os seus predecessores, distinguindo particularmente Marx, sobre quem derramou a sua transbordante cólera.
Isto acontecia num momento em que os dois setores do Partido Socialista Alemão — os eisenachianos e os assallianos — acabavam de se fundir, adquirindo assim não só um imenso fortalecimento mas algo ainda mais importante: a possibilidade de desenvolver toda essa força contra o inimigo comum. O Partido Socialista da Alemanha convertia-se rapidamente numa potência. Mas para que se convertesse numa potência a condição essencial residia em que não fosse posta em perigo a unidade recém-conquistada. E o dr. Duhring dispós-se publicamente a formar em torno da sua pessoa uma seita — núcleo do que seria no futuro, um partido à parte.
Não havia, pois, outro remédio senão aceitar a luva que nos atirava e entrar na luta, por menos agradável que isso nos parecesse.
Certamente, ainda que não fosse muito difícil, a coisa haveria de ser, evidentemente, bastante pesada. É sabido que nós, os alemães, temos uma terrível e poderosa Grundlichkeit — um radicalismo profundo ou uma radical profundidade, como se queira chamar. Quando um de nós expõe algo que reputa ser uma nova doutrina, a primeira coisa que faz é elaborá-la sob a forma de um sistema universal. Tem que demonstrar que tanto os princípios básicos da lógica como as leis fundamentais do universo não existiram, desde toda a eternidade, senão com o propósito de conduzir, afinal, a essa teoria