Sociabilidade no Renascimento
Havia algo no ar. Um desejo, talvez. Ou uma necessidade. Um movimento sutil na direção da mudança. Uma vontade coletiva de experimentar, descobrir, transformar. Corria o século XIV, e na Europa — na Itália, a princípio — começou a tomar forma aquilo que mais tarde o mundo conheceria como Renascimento.
Ávidas, as pessoas revisitavam os valores da Antiguidade clássica. Vasculhavam velhos textos e redescobriam o ideal artístico do universo greco-romano. Mas não se tratava de uma simples volta ao passado remoto. Acreditando-se herdeiras das antigas tradições, essas pessoas começaram a produzir um mundo diferente. Beneficiadas pelo desenvolvimento sem precedentes da ciência e da técnica, lançavam-se aos mares, aventuravam-se para além das terras conhecidas e chegavam ao Novo Mundo
— que passaria a integrar, na qualidade de colônia, o sistema econômico e político da Europa.
Mas o Renascimento não é apenas a retomada da marcha triunfal da razão e do espírito científico após a "longa noite medieval", como muitas vezes foi caracterização modo simplista, a Idade Média. O que se denomina "ciência" no Renascimento, embora prepare os fundamentos para a arrancada científica do século XVII, guarda sinais do pensamento medieval, ao qual se somam elementos do misticismo oriental e judaico. A astronomia e a astrologia, a química e a alquimia, a investigação da natureza e a magia permanecem juntas e assim caminham.
A originalidade do Renascimento está em construir uma nova imagem do mundo a partir da permanência de elementos do passado. É em nome do humanismo que o homem, mesmo temeroso, começa a separar-se da grande ordem do universo, para ser o seu espectador privilegiado. Mais do que isso, ele é o organizador dessa ordem. No plano religioso, isso se traduz na Reforma, que não reconhece intermediários — os padres ou o papa — na comunicação com Deus. O homem, e só ele, é responsável por seus atos, perante sua