Sobre o Regime da Verdade
Tiago Mônico Gayet
A História Repensada, de Keith Jenkins, obra publicada em 1991, sintetiza algumas das profundas mutações na disciplina de História, iniciadas, trinta anos antes, com a obra de Michel Foucault. Historiador pós-moderno, Jenkins irá tratar da filosofia da História – do modo como a historiografia é produzida, quais são seus limites e como ela está situada nos debates atuais. Jenkins, logo no início, propõe a revisão da importância de se responder “O que é história?” e, insatisfeito com a famosa pergunta, argumenta para desmascará-la mostrando que quaisquer respostas – e são inúmeras – serão frágeis1. Frágeis porque estão sujeitas às suas próprias ideologias, metodologias e limites epistemológicos. A consequência imediata é que não se pode escolher uma que seja mais “relevante” e dessa forma coloca-la como oficial num congresso de historiadores. Talvez para a escola dos Annalles exista uma definição majoritariamente aceita, dentro do próprio modelo proposto. Os marxistas, por sua vez, irão dizer que a História é dialética e materialista e está fundamentada na luta de classes – sugere-se até que a História teria seu fim quando não houvesse mais a dinâmica de opressor e oprimido. Ginzburg irá falar sobre a micro-história, e assim por diante. De modo grosseiro, esboçam-se diversas formas de abordar esse conceito controverso. A pretensão de se entender por completo o conceito de História está fadada à frustração. Limitar seu campo (o da História) com pontos finais que jamais seriam tocados por gerações futuras de historiadores é eliminar a possibilidade de se repensar a filosofia da história. Ora, nenhum campo de conhecimento – seja ele considerado ciência ou não – sobrevive intacto desde sua inauguração. Portanto, não se deve pensar no conceito como um elemento isolado dos desvios ideológicos do próprio método que se usa para pensa-lo. Pelo contrário, deve-se admitir que a definição que daí resulta será uma definição