Sobre a identidade alema
Almada Negreiros
Ergo-Me Pederasta apupado d'imbecis, divinizo-Me Meretriz, ex-libris do Peccado, e odeio tudo o que não Me é por Me rirem o Eu! satanizo-me tara na vara de Moysés!
O castigo das serpentes é-me riso nos dentes,
Inferno a arder o Meu cantar!
Sou vermelho-Niagára dos sexos escancarados nos chicotes dos cossacos!
Sou Pa-demonio-Trifauce enfermiço de Gula!
Sou genio de Zarathustra em Taças de Maré-Alta!
Sou Raiva de Medusa em Damnação do Sol!
Ladram-me a Vida por vivê-La e só me deram Uma!
Hão-de lati-La por sina! agora quero vivê-La!
Hei-de Poeta cantá-La em gala sonora e dina!
Hei-de Glória desannuviá-la!
Hei-de Guindaste icá-la esfinge da Valla pedestre onde Me querem rir!
Hei-de trovão-clarim levá-La Luz ás Almas-Noites do Jardim das Lagrymas!
Hei-de bombo rufá-La pompa de Pompeia nos Funeraes de Mim!
Hei-de Alfange-mahoma cantar Sodoma na Voz de Nero!
Hei-de ser Fuas sem Virgem do Milagre, hei-de ser galope opiado e doido, opiado e doido..., hei-de Attila, hei-de Nero, hei-de Eu, cantar Attila, cantar Nero, cantar Eu!
Sou Narciso do Meu Ódio!
— O Meu Ódio é Lanterna de Diogenes, é cegueira de Diogenes, é cegueira da Lanterna!
(O Meu Ódio tem thronos de Herodes, hysterismos de Cleopatra, perversões de Catharina!)
O Meu Ódio é Diluvio Universal sem Arcas de Noé: só Diluvio Universal! e mais universal ainda: sempre a crescer, sempre a subir..., até apagar o Sol!
Sou throno do Abandono, mal-fadado, nas iras dos barbaros, meus Avós.
Oiço ainda da Berlinda d'Eu ser sina gemidos vencidos de fracos, ruidos famintos de saque, ais distantes de Maldição eterna em Voz antiga!
Sou ruinas razas, innocentes como as azas de rapinas afogadas.
Sou reliquias de martyres impotentes sequestrados em antros do Vicio.
Sou clausura de Sancta professa,
Mãe exilada do Mal,
Hostia d'Angustia no Claustyro, freira demente e donzella, virtude sosinha da cella em penitencia de sexo!
Sou rasto