Sobre a emergência de construções: evidências translinguísticas
EVIDÊNCIAS TRANSLINGUÍSTICAS
Angélica RODRIGUES
Universidade Federal de Uberlândia angelica_rodrigues@hotmail.com Resumo
O objetivo desse artigo é discutir, a partir de uma abordagem que busca aliar os estudos da gramática das construções e de gramaticalização, a emergência das construções verbais paratáticas (CVPs), fornecendo dados relevantes para o aprofundamento do debate acerca tanto da ampla distribuição dessas construções em línguas românicas quanto das relações de herança entre construções numa determinada língua.
Palavras-chave
gramaticalização; gramática das construções; línguas românicas.
Rev. Let. & Let. Uberlândia-MG v.27 n.1 p.111-125 jan.|jun. 2011
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Introdução1
U
ma vez que o termo “gramaticalização” tem sido usado mais recentemente com mais de uma acepção por autores diversos (cf. NOËL, 2007), faz-se necessário esclarecer qual o conceito de gramaticalização será utilizado neste trabalho. Dessa forma, gramaticalização é entendida aqui como a mudança através da qual em certos contextos linguísticos os falantes usam (parte de) uma construção com uma função gramatical, ou atribuem uma nova função gramatical a uma construção já gramatical (TRAUGOTT, 2009, p.91).
Em acordo com a proposta de Hopper & Traugott (2003, p. 18) gramaticalização também é vista como a mudança através da qual itens ou construções são usados em certos contextos linguísticos com funções gramaticais e, uma vez gramaticalizados, continuam a desenvolver novas funções gramaticais.
Da mesma forma, a utilização do termo “construção” demanda cautela, pois, embora seja recorrente na literatura linguística, inclusive nos trabalhos sobre gramaticalização (HOPPER & TRAUGOTT, 2003; BYBEE et al.,1994; BISANG, 1998), é usado muitas vezes para se referir a uma unidade linguística maior do que uma palavra. Os estudos desenvolvidos sob o prisma da Gramática das Construções (GC), que tem como objetivo