Sobre a dialética - Marcuse
Herbert Marcuse
1.
Este livro foi escrito na esperança de ser um pequeno contributo para a revitalização, não de Hegel, mas da faculdade mental que está na iminência de ser eliminada: o poder do pensar negativo. Como Hegel o define: “Pensar é sim, essencialmente a negação daquilo que está imediatamente diante de nós”. O que quer ele dizer por Negação, categoria central da dialética?
2.
Para Hegel até mesmo os seus mais abstratos e mais metafísicos conceitos estão saturados de experiência – a experiência de um mundo em que o não-razoável torna-se razoável e, como tal, determina os fatos, experiência em que a não-liberdade é a condição de liberdade e a guerra a garantia da paz. Este mundo contradiz si mesmo. O senso-comum e a ciência liberam-se desta contradição; mas o pensamento filosófico inicia com o reconhecimento de que os fatos não correspondem aos conceitos impostos pelo senso comum e pela razão científica – em suma, inicia-se pela recusa em aceitá-los. À proporção que tais conceitos desconsideram as inevitáveis contradições que constituem a realidade eles abstraem-se do próprio processo da realidade. A negação, que a dialética aplica a estes conceitos não é só crítica a uma lógica do conformismo, que nega a realidade das contradições, é também, uma crítica ao estado de coisas existente em seu próprio fundamento – do sistema estabelecido de vida, que prejudica suas próprias expectativas e potencialidades. 1
Tradução de Alberto Dias Gadanha do Prefácio A note on dialectic do livro de Herbert
Marcuse Reason and Revolution - Hegel and the rise of social theory - Boston: Beacon Press, 1960.
Da tradução brasileira Razão e Revolução - Hegel e o advento da teoria social RJ: Paz e Terra, 1978; não consta este prefácio da 2ª edição, pois foi realizada a partir da 1ª edição de 1941.
3.
Hoje, este modo dialético de pensamento é estranho ao todo do universo estabelecido do discurso e da ação. Parece