Sobre a ''Carta de Pero Vaz de Caminha''

1646 palavras 7 páginas
Dois ferozes inimigos tiveram que combater os narradores de viagens, na sua luta para fixar um novo saber. De um lado, um conhecimento secularmente estabelecido pelas autoridades de plantao de sempre, legitimado pelo poder soberano da Igreja. De outro, um real novo, que lhes entrava sentidos adentro, sem pedir licença nem aguardar tempo suficiente para ser emoldurado em arcabouços em que pudesse ser previamente contido, de maneira a poder ser submetido as formas várias de classificação – aspiração definitiva de todos os saberes, mesmo daqueles que se pretendem nao ou anti-classificatórios.
Com dois excessos, pois, defrontavam-se os novos viajantes: um excesso de saber e um excesso de real. Dito de modo mais moderno, um excesso de nomes, e um excesso de coisas. O dilema posto aos viajantes, todavia, é que, no primeiro caso, apesar de todo o prestígio que lhes conferia o peso da tradição, tratava-se de nomes já ali sem coisas por nomear e, no segundo, de coisas ainda sem nome, e que se acumulavam de maneira incalculável, a espera de serem nomeadas
A carta de Pero Vaz de Caminha é texto bastante apropriado para flagrar-se o movimento dessa tensao entre o dever da objetividade e o deslumbramento – involuntário – da subjetividade.
A viagem, ou melhor, a descrição da viagem torna-a uma espécie de passe de mágica. Ainda que se tenham passado exatos trinta dias entre o Cabo Verde e a Terra de Vera Cruz, a sensação é de algo vertiginoso, que elimina em simultâneo o tempo e o espaço (novos). O efeito é evidente: vencida a viagem, aponta-o sua negação no espaço da escritura, restabeleceu-se a continuidade que o mar – tanto mar!– vem lembrar como um fantasma.
Ante a impossibilidade de respostas, que nao terao de onde vir, posto que o que se ve nao se enquadra no que se sabe, resta ao escrivao render-se a evidencia – e quando se diz evidencia diz-se de visibilidade – da perfeição do nativo, desacostumada que seja sua forma de viver. E que desacostumada forma de viver é

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