Sobre a ''Carta de Pero Vaz de Caminha''
Com dois excessos, pois, defrontavam-se os novos viajantes: um excesso de saber e um excesso de real. Dito de modo mais moderno, um excesso de nomes, e um excesso de coisas. O dilema posto aos viajantes, todavia, é que, no primeiro caso, apesar de todo o prestígio que lhes conferia o peso da tradição, tratava-se de nomes já ali sem coisas por nomear e, no segundo, de coisas ainda sem nome, e que se acumulavam de maneira incalculável, a espera de serem nomeadas
A carta de Pero Vaz de Caminha é texto bastante apropriado para flagrar-se o movimento dessa tensao entre o dever da objetividade e o deslumbramento – involuntário – da subjetividade.
A viagem, ou melhor, a descrição da viagem torna-a uma espécie de passe de mágica. Ainda que se tenham passado exatos trinta dias entre o Cabo Verde e a Terra de Vera Cruz, a sensação é de algo vertiginoso, que elimina em simultâneo o tempo e o espaço (novos). O efeito é evidente: vencida a viagem, aponta-o sua negação no espaço da escritura, restabeleceu-se a continuidade que o mar – tanto mar!– vem lembrar como um fantasma.
Ante a impossibilidade de respostas, que nao terao de onde vir, posto que o que se ve nao se enquadra no que se sabe, resta ao escrivao render-se a evidencia – e quando se diz evidencia diz-se de visibilidade – da perfeição do nativo, desacostumada que seja sua forma de viver. E que desacostumada forma de viver é