Slavoj Zizek
A trajetória biográfica e intelectual de Žižek reúne uma série improvável de encontros e circunstâncias. Improvável a ponto de que quando tentamos compreender como o “fenômeno Žižek” se tornou possível somos arrastados para uma multiplicidade de contextos cuja reunião nos dá apenas um resultado: contradição. Os comentadores são unânimes em apontar que Žižek move-se tão rapidamente, produz de modo tão prolífero e toma posições de tal forma contrastantes, que nunca se consegue dirimir exatamente qual é seu projeto. Žižek não é um pensador sistemático que nos convida para a arqueologia e a reconstrução do movimento de seus conceitos, ao gosto da prática universitária corrente; mas também não corresponde ao intelectual edificante, ensaístico ou opinativo, interessado apenas em questões pontuais e intervenções localizadas. O modo mais eficaz de captar a lógica de seus textos é atentar para constância de seu estilo, que se desenvolve como intelectual engajado, um pensador que, sobretudo, toma posições. Em geral tais posições nos fazem rever o próprio mapa, ou as coordenadas simbólicas de que dispomos para localizar a questão tratada. Daí a importância da noção de ato, onipresente na obra de nosso autor.
Žižek nasceu em 1949, em Liubliana, capital da Eslovênia, a mais próspera das províncias da antiga República da Iugoslávia, e a primeira a se tornar independente em 1991. Em 1971 ele completa sua graduação em filosofia e ciências sociais e em 1975 apresenta sua tese sobre A relevância prática e teórica do estruturalismo francês. Filho de comunistas linha-dura, vê fracassar suas possibilidades de rápido ingresso no sistema burocrático-universitário. Reprovado no concurso para professor de filosofia amarga a dura e marcante experiência do desemprego. Žižek acompanha a formação do discurso nacionalista sérvio e particularmente a construção ideológica de Kosovo como objeto que completaria a unidade iugoslava tendo papel importante na organização do movimento