sla e seu amigo
Mas podíamos andar por ele à vontade, em cima de todos os quartos da casa e até mesmo ver o que se passava lá embaixo por alguma fresta nas tábuas. Só que não havia grande coisa a espionar, senão alguém trocando de roupa, o que em si não tinha nada que merecesse maiores investigações.
Havíamos deslindado vários mistérios, que desafiariam a argúcia dos mais hábeis detetives e espiões do mundo inteiro. Conseguimos descobrir quem tinha chupado os ovos no ninho do galinheiro da casa de nossa agente Anairam: um gambá que, ao ser descoberto, sumiu para sempre sem deixar vestígios, além de um rastro de mau cheiro. Tínhamos desmantelado uma rede de contraespionagem chefiada pelo Gerson. Ele era capaz de verdadeiros prodígios, como entrar no nosso quarto pela janela do segundo andar (e jamais soube voar como eu) para abrir meu armário e o do Toninho e ver o que tinha dentro, usando gazuas e chaves falsas. Graças ainda às nossas investigações, descobrimos que uma nova empregada conseguira em uma semana furtar objetos de todo mundo dentro de casa, até da própria Alzira, sua colega de quarto. Mas nossa maior proeza seria a da casa abandonada, motivo da reunião que eu havia convocado para aquele dia.
Aos poucos foi surgindo a mobília da minha nova morada: uma mesa feita de tábua e quatro pedaços de cabo de vassoura, um banquinho que era outra tábua em cima de dois tijolos, e a cama, que era um saco de aniagem cheio de folhas secas em cima de um jirau improvisado. Algumas prateleiras de papelão e cabides feitos de pregos completavam a arrumação.
Cuidei também de levar para a cabana uma boa provisão de alimentos furtados da despensa: frutas, latas de sardinha, salame, queijo — tudo mais que pudesse comer com auxílio do meu canivetinho, sem precisar de cozinhar.
E passava horas e horas ali dentro, sozinho na minha ilha deserta. Até parecia que ninguém mais sabia da minha