SIRIO POSSENTI - Entrevista
12/12/2013
Sírio Possenti, (Doutor em linguística, Professor do Departamento de Linguística do Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp). Autor da obra “Por que (não) ensinar gramática na escola” (Ed. Mercado de Letras, 1996) - Quais as contribuições da linguística para o ensino de língua portuguesa?
"A pergunta é ampla e genérica, difícil de responder. Vou tentar uma resposta que recubra amplos domínios de possível influência. Diria, brevemente, que as influências principais da linguística derivam de posições que aparentemente são só teóricas: a língua é um sistema (daí deriva, por exemplo, que os “erros” são organizados); não se aprende por etapas – da frase curta à longa; a língua falada é uma língua – ou seja, a oralidade não é “imperfeita”. Versões confiáveis da linguística nos ensinam que falar e, eventualmente, escrever de maneira diferente não é igual a errar; que não se aprende uma língua estudando regras, mas convivendo (interagindo linguisticamente, discursivamente) em uma “comunidade”, que falamos por textos/discursos (ou por gêneros, como ensinou Bakhtin) e não por palavras ou frases. A história das línguas nos ensina que os erros de hoje são a língua do futuro. Por isso, as avaliações que se fazem usualmente das falas populares são bastante precárias, feitas a partir de um manual concebido como se fosse de etiqueta (as gramáticas do certo e do errado)." - Qual a posição do professor de língua portuguesa diante do ensino de gramática?
"Qualquer que seja a posição do professor em relação ao ensino de gramática (contra ou a favor), dois aspectos deveriam ser considerados a sério: a) ensinar gramática não é a mesma coisa que ensinar uma língua – ler e escrever bem são tipos de saberes que não exigem capacidade de análise explícita no domínio gramatical, e saber gramática não confere a ninguém a capacidade de ler e de escrever bem; b) se a escola decidir ensinar uma gramática, por