Sinthoma
Freud, desde o começo, inclui o conceito de satisfação pulsional vinculado ao sintoma. Lacan, porém, na primeira época de seu ensino, prioriza a noção do inconsciente e do sintoma estruturados como linguagem, deixando de lado a referência à insatisfação contida no sintoma e localizando a pulsão, o que não pode se dizer, fora do campo da interpretação analítica. O sintoma mesmo é linguagem e, pela interpretação, é possível alcançá-lo evocando suas ressonâncias semânticas. Assim, se para Freud o sintoma é o resultado da repressão para Lacan o sintoma é a repressão. O que cai sob o golpe da repressão retorna dolorosamente no sintoma. Lacan, lendo Freud, apresenta o sintoma como mensagem-metáfora; como gozo e como invenção-criação. Lacan comprova que o franqueamento do recalcamento é estruturalmente impossível e que o significado permanece discordante, sem acesso à consciência. Nesse contexto, ocorre uma mudança na concepção da emergência da verdade: da verdade que pode ser apreendida totalmente na fala plena, passa-se à meia-verdade, à impossibilidade de dizer a verdade toda, assinalando a presença de algo do significado que é resistente ao significante. No sintoma, assim como nas demais formações do inconsciente, há uma satisfação de desejo, mas esta satisfação tem um caráter problemático e paradoxal, uma vez que é também uma “satisfação real” (Freud, 1917/1980, p. 421), uma “satisfação às avessas” (Lacan, 1957-1958/1999, p. 331), para além do princípio do prazer e vinculada à pulsão de morte.
O sintoma é, assim, definido como “o significante de um significado recalcado da consciência do sujeito” (Lacan, 1953/1998, p. 282), um sem-sentido, uma opacidade no discurso do sujeito, por representar alguma irrupção de verdade. É concebido como “o retorno, por via de substituição significante, do que se encontra na ponta da pulsão como seu alvo [a satisfação]”. Podemos perceber que o sintoma e o que cada tem de mais particular, e também o de mais real. Por isso