Singularidades de uma rapariga loura
Análise do tema do tempo e da narratividade, na obra literária “Singularidades de uma rapariga loira” (1874), de Eça de Queirós e na adaptação fílmica de Manuel de Oliveira (2009).
É muito frequente encontrarmos textos literários, adaptados ao Cinema. Importa analisar qual a relação entre o tipo de narrativa literária e a narrativa cinematográfica. Quais as diferenças essenciais? Como é que o realizador olha para um texto literário e o adapta ao cinema? Olha para o texto sem constrangimentos e faz uma adaptação totalmente livre ou tenta ir de encontro ao que o escritor pretendia transmitir? Penso que não há uma só resposta a esta questão. Há várias correntes sobre o processo de adaptação. Conforme o texto fornecido na plataforma, “A narrativa no confronto interartes” de Maria do Rosário Lupi Bello, há teorias que dão enfase ao processo de “transferência”, de “diálogo intertextual” e há quem refira conceitos de “metamorfose” e de “analogia”. Uma adaptação é sempre uma interpretação. O realizador irá ter sempre uma perspetiva que não é absolutamente coincidente com a do autor da obra. É sempre o seu ponto de vista, e não aquilo que o autor idealizou. No entanto, encontramos em muitas adaptações, pontos de contacto muito fortes. Encontramos relações intertextuais que nos mostram a teia de ideias e de conceitos que esteve na base do processo de adaptação.
Tanto a Literatura como o Cinema são artes temporais. Ambas as artes, transmitem-nos uma história, ou um acontecimento, através de uma sucessão de acontecimentos (sequência), num determinado tempo e espaço. Este encadear de factos, que origina a ação dentro da história é o que chamamos de narrativa. Ambas as artes, apresentam-se-nos, através de códigos narrativos comuns (espaço, tempo, personagens, ponto de vista). No caso do cinema, a sequência de acontecimentos, é enriquecida com imagens em movimento, o