Simmel
Georg Simmel
É uma opinião universalmente aceita entre os europeus o fato de que a
Renascença italiana produziu aquilo que chamamos de individualidade -a superação tanto interna quanto externa do indivíduo das formas comunitárias medievais que conformavam a forma de vida, a atividade produtiva, os traços de caráter dentro de unidades niveladoras, fazendo desaparecer os traços pessoais e impossibilitando o desenvolvimento da liberdade pessoal, da singularidade própria de cada um e da auto-responsabilidade. Não pretendo discutir se a Idade Média realmente reprimia de tal modo as características da individualidade. Mas, realmente, a ênfase consciente desses princípios parece, com certeza, ser um desempenho da Renascença e precisamente em uma forma tal que difundiu a vontade de poder, fama, prestígio e distinção em um grau desconhecido até então.
Se no começo desse período, como se comenta, não existia em
Florença nenhuma moda dominante para a vestimenta masculina, posto que cada qual desejava se vestir de uma maneira própria e especial, não era uma questão de diferenciação simples, mas, antes de tudo, um desejo individual de aparecer, de se apresentar da maneira mais favorável e merecedora de atenção do que era permitido pelas formas habituais. O que se toma realidade nesse movimento é precisamente o individualismo da distinção em contraponto com a ambição do homem renascentista de se impor incondicionalmente, de enfatizar o valor de sua própria singularidade.
Reside na própria natureza das coisas, no entanto, que esse desejo e essa satisfação não possam ser um traço permanente do homem ou da sociedade, tendo de desaparecer da mesma forma que um estado extático. Na medida em que o individualismo se manifesta aqui como uma procura de distinção, ele deixa para trás, nos altos e baixos e características gerais do ser humano, tantos compromissos, tantas impossibilidades de