Simbologia da ilha dos amores
A viagem à Índia define o espírito do homem da Renascença que acredita na experiência e na razão. É fruto da necessidade de exploração de um espaço geográfico, para futuras viagens mais rápidas e seguras ao Oriente. Mas o espírito de aventura dos nautas não se confunde com um acto irracional ou sentimental, nem com o resultado de um capricho dos deuses ou do fado. Os Portugueses já possuíam muitos dados sobre os mares e as gentes que contactaram e conheceram. A experiência marítima, o conhecimento de viagens através do continente africano e asiático, os contactos com mercadores diversos que traziam as especiarias ou as explorações da costa africana até ao Cabo foram valiosos para esta tarefa. Na «Ilha dos Amores» culmina a viagem «por mares nunca dantes navegados», ou seja, através do desconhecido, do que era obscuro para os nautas. E estes, ao encontrarem a satisfação dos sentidos na relação com as ninfas e ao verem a «Máquina do Mundo», mais não têm do que as compensações das descobertas e do domínio das novas terras. Numa leitura simbólica, a viagem, mais do que a exploração dos mares, exprime a passagem do desconhecido para o conhecimento, da realidade do Velho Continente e dos seus mitos indefinidos ou sem explicação para novas realidades de um planeta a descobrir. No regresso à «pátria amada», Camões já não está preocupado em cantar as peripécias da viagem, mas em traduzir a luz que se abriu aos Portugueses e ao mundo ocidental. Por isso, diz que os nautas, ao nascer do dia, viram uma Ilha «fresca e bela», «alegre e deleitosa», de «claras fontes e límpidas», com ninfas que «se lançavam / nuas por entre o mato, aos olhos dando / o que às mãos cobiçosas vão negando» (IX, 72, 6-8) e, mais tarde, contemplaram a «Máquina do Mundo». O raiar da aurora, a visão da Ilha, a claridade e limpidez das fontes, os olhos que viram as ninfas ou que contemplaram a «Máquina do Mundo» exprimem a