Sexualidade
SOCIOCULTURAL DA MULHER BRASILEIRA
Cleide Maria Bocardo Cerdeira∗
Segundo Saint-Hilaire, a condição da mulher brasileira era tão
inferior que sua posição na escala social podia ser comparada à de um cão.
“(...) Cercado de escravos, o brasileiro habitua-se a não ver senão escravos entre os seres sôbre (sic) os quais tem superioridade, seja pela fôrça (sic),
seja pela inteligência. A mulher é, muitas vêzes (sic), a primeira escrava da casa , o cão é o último.” 1
“No regime patriarcal, o homem tendia a transformar a mulher num ser diferente dele, criando jargões do tipo “sexo forte” e “sexo frágil”. No Brasil
colonial, a diferenciação parecia estar em todas as esferas, desde o modo de se trajarem até nos tipos que se estabeleciam. A sociedade patriarcal
agrária extremava essa diferenciação, criando um padrão duplo de moralidade, no qual o homem era livre e a mulher, um instrumento de
satisfação sexual. Esse padrão duplo de moralidade permitia também ao homem desfrutar do convívio social, dava-lhe oportunidades de iniciativa, enquanto a mulher cuidava da casa, dedicava-se aos filhos e dava ordens às escravas” Auguste de SAINT-HILAIRE,
“Valores como possuir pés pequenos e cintura fina eram artificiais, uma vez que se tornavam incômodos os modos de se vestir, envolvendo a própria liberdade física da mulher. É daí que vem a
erotização da mulher, pois a sociedade não tinha outro modo de enxergá-la, a não ser como objeto sexual. Elas próprias buscavam essa diferenciação, seja no exagero de seus enfeites, seja no exagero de sua feminilidade. A literatura médica registra muitos casos de tuberculose feminina desencadeados pelas exigências da moda da época, que obrigava as mulheres a se vestirem de tal modo que seus pulmões não se expandiam corretamente, prejudicando, assim, a própria respiração ou devido também à alimentação irregular” Gilberto FREYRE, Sobrados e mucambos: decadência do patriarcado rural