No medievo, era comum pensar na mulher como um ser fraco, que precisa da ajuda e do apoio masculinos, e, por conseguinte, ser necessariamente subjugada pelo homem, pelo caráter naturalmente perverso atribuído à mulher (DUBY, 1989). Esse caráter perverso condenou a mulher ao destino de estar sempre servindo ao homem no casamento, a sustentar o poder legítimo dado a ele de servir-se dela, no cuidado da casa, no corpo e na procriação. A imagem feminina concebida a partir da obra de Aristóteles restringiu a função da mulher à procriação e, ainda assim, à uma parte ínfima dessa função: [...] da mulher na procriação à contribuição da matéria prima apenas, semente inativa e informe, à espera do princípio formador e animador encontrado no sêmen do homem. (FONSECA, 2009). Falta a página. O medo da mulher e de sua sexualidade imperou durante a Idade Média, essa apreensão de que a mulher levaria o homem ao pecado e a fornicação, advinha de uma visão de mulher libidinosa, que está sempre a mercê do comando do corpo, dos desejos, e não do racional, da mente. Estabeleceu-se, dessa forma, uma dicotomia entre o masculino (mente, alma, razão) e o feminino (corpo, desejo, devassidão). Graciano, pautando-se nos pensamentos de Isidoro de Sevilha, produziu a seguinte articulação sobre a superioridade do homem: A palavra homem (vir) não deriva apenas de força (vi), mas de uma força especial, a da mente (virtus animi). Quanto à mulher (mulier), comenta Sob a influência da Igreja, o termo “fornicação” designava, na Idade Média, toda forma de relação sexual fora do casamento e não mais, como em Roma, o comércio com as prostitutas. Em termos de repressão, a união consentida entre duas pessoas livres de qualquer laço (fornicação simples) era sancionada apenas em foros internos, por penitências privadas. As formas mais graves de fornicação tais como o estupro (relações, mesmo que consentidas, com uma virgem, uma freira, uma viúva ou uma doméstica), o adultério, a violação, o rapto, o