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Javier Amadeo1
I.
O pensamento político inglês do século XVII se constitui como um elemento fundamental na transição para perspectivas políticas modernas, das quais uma de suas marcas essenciais é o surgimento da consciência cívica. A essência desta alteração encontra-se no desenvolvimento de uma consciência da dimensão pública na vida social. A ideia de consciência cívica se refere à percepção de que existe uma ordem pública, de que a ordem social é um espaço de problemas e propósitos compartilhados, e na problematização desse reconhecimento como central na discussão política. O desenvolvimento desta visão cívica expressa uma alteração radical em relação ao pensamento político dominante. Implica não só um contexto político novo, mas fundamentalmente uma reestruturação profunda nas concepções relativas à natureza e ao propósito da autoridade política, uma redefinição total nos deveres e obrigações dos cidadãos, e uma mudança radical no foco das lealdades e dos interesses2.
Sem dúvida o intenso conflito político, social e religioso pelo qual passou a
Inglaterra durante este século foi uma precondição indispensável na redefinição dos problemas políticos da época. Um dos elementos centrais no surgimento dessa consciência cívica na história inglesa radica na controvérsia constitucional nas décadas que precederam a guerra civil. O ponto crucial foi uma dramática reestruturação da visão política no meio de uma crise profunda, e o que emergiu deste prolongado debate foi uma definição radicalmente nova dos direitos e deveres do cidadão, o que por sua vez envolvia concepções novas de autoridade política legítima. A gravidade da crise provocou uma profunda exploração e experimentação intelectual, dando lugar ao surgimento de ideias e conceitos que se transformariam em dominantes no pensamento e no discurso políticos modernos.
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Licenciado em Ciência