serviço social
Anánse sodal,vol.XXIX(129), 1994 (5.°), 1149-1191
Dinâmicas familiares no mundo actual: harmonias e conflitos
A instituição familiar vem concitando, nomeadamente no decurso de 1994, uma particular atenção por parte das mais diversas organizações, nacionais e internacionais. Considerada a «unidade fundamental da sociedade», assim consagrada em declarações e constituições políticas, a família tem estado no centro de discursos e de realizações. Mas, se este tema conseguiu introduzir alguma mobilização na sociedade civil, o mesmo não parece haver ocorrido na esfera política. Em Portugal nem o governo nem os partidos souberam ou quiseram, ao longo dos últimos vinte anos, elaborar e fazer actual uma política familiar. A sociedade portuguesa carece de uma legislação coerente e eficaz nesta matéria que permita às pessoas o exercício livre das suas opções.
Neste contexto, o discurso sobre a família prevalece sobre as realizações concretas. E, se realizações houve, não são suficientemente sustentadas por políticas governamentais, correndo o risco de se tornarem pontuais e passageiras. A análise de tal discurso reveste-se, no entanto, de uma grande importância pelo que contém ou omite. Recheado de oposições e, por vezes, mesmo de contradições, o discurso sobre a família traduz bem a situação actual, a configuração de um fenómeno que perdeu as características de facto homogéneo, pulverizado indefinidamente. Tendem a prevalecer modelos diferentes de convivência familiar, em correspondência com outras tantas experiências de vida. Os discursos reflectem diversas áreas de problematicidade que atravessam o mundo hodierno e penetram no interior dos lares. A descodificação desses discursos passa necessariamente pela clarificação da realidade a que pretendem referir-se.
A análise que a seguir se apresenta tem como base os resultados de um inquérito lançado no espaço geográfico da Diocese do Porto. Foram enviados 10 000