Sermão de Santo Antônio aos Peixes
Trata-se de uma peça oratória do Padre Antônio Vieira, proferida na cidade de São Luís do Maranhão (Brasil), em 1654, na sequência de uma disputa com os colonos portugueses no Brasil.
Baseia-se no conceito "Vós sois o sal da terra". Foi construído com base em alegorias, simbolizando os vícios dos colonos do Brasil em vários peixes – roncador (o orgulhoso), voador (o ambicioso), pegador (o parasita) e o polvo (o traidor).
O sermão é iniciado pelo exórdio e posteriormente abrange uma invocação a Maria. Entra na argumentação começando pela exposição, onde explica as propriedades do sal e a importância das pregações para salvar os homens. Louva depois as virtudes dos peixes e repreende, em seguida, os seus vícios. No desenvolvimento, inicia com a colocação das virtudes dos peixes, finalizando com a censura à prepotência dos grandes que, como alguns peixes, vivem do sacrifício dos pequenos.
Na peroração, o pregador faz uma última advertência aos peixes. Incentiva-os a sacrificarem a Deus o respeito e a reverência. Antes de terminar o sermão, com um admirável hino de louvor, o Padre Antônio Vieira confessa-se pecador, em oposição aos peixes.
“Vós, diz Cristo, Senhor nosso, falando com os pregadores, sois o sal da terra: e chama-lhes sal da terra, porque quer que façam na terra o que faz o sal. O efeito do sal é impedir a corrupção; mas quando a terra se vê tão corrupta como está a nossa, havendo tantos nela que têm ofício de sal, qual será, ou qual pode ser a causa desta corrupção? Ou é porque o sal não salga, ou porque a terra se não deixa salgar. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores não pregam a verdadeira doutrina; ou porque a terra se não deixa salgar e os ouvintes, sendo verdadeira a doutrina que lhes dão, a não querem receber. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores dizem uma cousa e fazem outra; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes querem antes imitar o que eles fazem, que fazer o que