Serm O Pelo Bom Sucesso Das Armas De Portugal Contra As De Holanda
Padre António Vieira
Exurge quare obdormis, Domine? Exurge, et ne repellas in finem. Quare faciem tuam avertis, oblivisceris inopiae nostrae et tribulationis nostrae?
Exurge, Domine, adjuva nos et redime nos propter nomen tuum.
(Salmo XLIII)
I
Com estas palavras piedosamente resolutas, mais protestando, que orando, dá fim o Profeta Rei ao Salmo quarenta e três. Salmo, que desde o princípio até o fim, não parece senão cortado para os tempos e ocasião presente. O
Doutor Máximo S. Jerónimo, e depois dele os outros expositores, dizem que se entende à letra de qualquer reino ou província católica, destruída e assolada por inimigos da Fé. Mas entre todos os reinos do Mundo a nenhum lhe quadra melhor que ao nosso Reino de Portugal; e entre todas as províncias de Portugal a nenhuma vem mais ao justo que à miserável província do Brasil. Vamos lendo todo o Salmo, e em todas as cláusulas dele veremos retratadas as da nossa fortuna: o que fomos e o que somos.
Deus, auribus nostris audivimus, Patres nostri annuntiaverunt nobis, opus, quod operatus es in diebus eorum, et in diebus antiquis. Ouvimos
(começa o profeta) a nossos pais, lemos nas nossas histórias e ainda os mais velhos viram, em parte, com seus olhos as obras maravilhosas, as proezas, as vitórias, as conquistas, que por meio dos portugueses obrou em tempos passados vossa omnipotência, Senhor. Manus tua gentes disperdit, et plantasti eos; afflixisti populos et expulisti eos. Vossa mão foi a que venceu e sujeitou tantas nações bárbaras, belicosas e indómitas, e as despojou do domínio de suas próprias terras para nelas os plantar, como plantou com tão bem fundadas raízes; e para nelas os dilatar, como dilatou e estendeu em todas as partes do Mundo, na África, na Ásia, na América. Nec enim in gladio suo possederunt terram, et brachium eorum non salvavit eos, sed dextera tua et brachium tuum et illuminatio vultus tui, quoniam complacuisti in
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