Seria a vida um constante possuir?
Por Carlos Bernardo González Pecotche (Raumsol)
No homem existiu sempre, por lei natural, a inclinação para a posse; possuir uma coisa constituiu-se em todas as épocas um prazer, experimentado desde o momento em que se pensou na posse até seu alcance. Isto, naturalmente, dá um conteúdo à vida durante todo o tempo em que se mantém vivo o pensamento da posse; se está sob uma sensação agradável, que chega a presidir a vigília e até o sono, sobretudo quando se produz a aproximação do desejado. Observe-se como, enquanto dura e se realiza a aspiração, o ser vive feliz com tal perspectiva.
Sendo que a vida humana é um constante possuir, a maioria ignora, não obstante, como é possível cumprir este desígnio sem que cada posse, em vez de dar felicidade, produza tormento e aflição. Há que criar, para isso, a capacidade de posse. Há que saber o que se quer possuir, e saber, também, se tal posse haverá de identificar-se com a vida e será elemento fértil para o cultivo de futuras prerrogativas. Deve-se possuir, então, aquilo que brinde felicidade com projeções ao eterno, para que esta não seja efêmera. Esta verdade, que é uma lei que abre muitos princípios, que toca todas as ideias deve ser para cada um o sol que ilumine os dias da existência. O conhecimento é uma das posses a que mais deve aspirar o ser humano
Muitas vezes se tem visto as pessoas sentirem felicidade enquanto buscavam por todas as partes do mundo a posse de um selo, a qual manteve viva nelas a ilusão de encontrá-lo; uma vez em suas mãos, e colocado em um álbum, este se fecha e acaba ali a posse. Tal fato constitui a própria negação da posse, porque toda coisa nova que se possua deve enriquecer, desde esse momento, o acervo pessoal e tudo quanto forme a própria vida, aumentando a felicidade, a alegria e oferecendo uma nova possibilidade.
Eis aí, pois, como o homem pode traçar para si uma norma de conduta, procurando na posse de algo que lhe embeleze a vida ou