Sentir o que? Dentre as varias formas de se fazer ou estar em silencio, existe uma antagônica e cruel ao ser humano. É do silencio errante da medicalização excessiva e descriteriosa, que coloca o individuo em total solidão, deixando-os fora de si, longe do sujeito que o habita. Quando o corpo fala, através dos rostos rígidos, movimentos estereotipados, por vezes lentos ou agitados demais, olhares vidrados, distantes, perdidos ou fixos, voz embargada, passos que se conduzem em marcha ebriosa, de um ser embriagado pelas formulas químicas, soam como um eco permanente de pedido de socorro. Não se vê ali sujeito, não ha inscrições que o sustente no campo da palavra, pois o campo da palavra entra em colapso, sendo assim produz-se um ser abandonado e amortecido por remédios, que os calam, fazendo o sintoma perder sua função de vida, dificultando a escuta, inibindo manifestações afetivas e modelando discursos profundamente utilitaristas. É o verdadeiro abandono do humano, destituído de sua linguagem, colocado fora do discurso, da fala, e assim, excluído do mundo, onde só sobra o real. É calar o sujeito, com um objeto silenciador, que transpõe seus desejos para o passado, sufocando-o, esquecendo-se da angustia, constituinte e inata, que fica viva e contida, ao usarem as drogas da obediência, que molda o individuo e favorecem os discursos morais da sociedade. Ignora-se dessa maneira, a necessidade do ser, de se relacionar com o mundo de outra forma, por isso prevalece o controle racional e invisível, necessário a relação social, que tira dos indivíduos, a oportunidade de deixarem de ser, estrangeiros de si mesmos. Não se consegue com poucas palavras, expressar tamanho estrago, mais é factível sim, dimensionar quão impossível é, que se quebrem os dentes dessa engrenagem, que teima em continuar operando sempre dentro do mesmo tempo e sistema, condicionado por ideais de status, politicas, leis, poderes etc. Tira-se assim,