Sentimos
Numa ilha isolada, mas acessível a todos nós, os sentimentos conviviam numa harmônia possível: Alegria, Tristeza, Vaidade, a Sabedoria, a Raiva, o Desânimo, a Paixão, e tantos outros, mais, ou menos conhecidos.
Foi quando veio a notícia que a bela ilha afundaria no meio do oceano, foi grande a correria de alguns: o Desespero começou a dar chilique, o Pessimismo garantiu que todos morreriam e logo disse que estava em comum acordo com o Realismo, que em nada se pronunciou a respeito. A Astúcia rapidamente, mancomunado com a Inteligência, montaram seus barcos e trataram de deixar a ilha condenada.
O Amor, ao contrário, queria ficar um pouco mais e vislumbrar o lugar onde vivera bons momentos de sua existência, se se aperceber que rapidamente tudo submergia nas águas azuis e quentes daquele oceano Quando percebeu, estava começando a bater os braços, nadando onde havia terra seca.
A Prosperidade que passava em sua bela embarcação, foi chamada pelo Amor:
-Ajuda-me, pois vou morrer!
-Meu amigo, te admiro, mas meu barco está cheio de bens, ouro e tudo que fui capaz de amontoar pelos dias que estive na terra...fale com a Vaidade, ela ainda está ali, em seu lindo barco...
-Nem vem! - disse a Vaidade – Tu tá todo sujo. Independente de quem você seja, não vale o preço de danificar a beleza de meu belo barquinho...
A Tristeza, que cabisbaixa remava seu obscuro barquinho olhou com os olhos marejados para o Amor, que começava a engolir muita água:
-Desculpe-me, amigo, mas a segurança de minha existência só existe se manter-me longe de você. Por isso prefiro andar com outra pessoa que me fortifica, a Solidão...
A Alegria passou de largo: a cena de um Amor morrendo poderia alterar seu estado de espírito, e ele preferia ignorar que aquilo estava acontecendo.
O Amor não se incomodou com todas aquelas recusas, já que ele tudo perdoa, tudo espera, tudo sofre, tudo crê. Decidiu deixar que as coisas seguissem seu fluxo, deixando a maré o sufocar,