Sensologia, ideologia e burocracia: expressão artística condicionada?

Escola Superior de Teatro e Cinema

Estética I

Sensologia, ideologia e burocracia:
Expressão artística condicionada?

Francisco Abreu

Ano Letivo 2005/06

Sensologia, ideologia e burocracia:
Expressão artística condicionada?

Mário Perniola começa a sua obra “Do Sentir” precisamente por afirmar que o pensar e o agir estão, na nossa época, dependentes do sentir, afirmando desde logo que esta alteração relativamente recente na sociedade tem consequências na nossa capacidade de sermos livres, sentindo e decidindo por nós próprios.
Para Perniola, a partir dos anos 60, é no âmbito do sentir que se “desenham e cumprem os destinos de cada um e das coletividades”. Sendo assim, se, de alguma forma, for possível controlar o que sentimos - ou melhor- o modo como o sentimos, a nossa liberdade, sendo ele exercida no âmbito do pensamento ou da ação, pode estar posta em causa.
Identificamos claramente um percurso histórico no sentir inverso ao que acontecia na época do Iluminismo nos finais no séc. XVIII com o pensar, em que se insistia no uso público da razão, como um dos passos para alcançar a maioridade. No caso do sentir a transposição deu-se no sentido inverso, isto é, do interior para o exterior: o que antes nos era apresentado “por sentir”, que exigia que o sentíssemos e que nos envolvêssemos emocional e espiritualmente, é-nos agora transmitido por mediadores como “o já sentido” que apenas pode ser reforçado e transmitido, sem envolver algo de nós, apenas nos transmite um tom, algo muito leve, já sentido e filtrado, impedindo a sensação livre e pura que seria desejável como momento de procura do prazer despreocupada. Voltando à comparação com a época iluminista, podemos estabelecer um paralelismo entre os caminhos possíveis, no âmbito do pensar: o iluminismo (pensar por si mesmo) ou a fé/ideologia (conjunto de regras e opiniões já elaboradas) e as opções disponíveis atualmente no campo do sentir: o já sentido/sensologia (que nos é exterior, não exige