Senso comum
Existe um domínio da vida que pode ser entendido como vida por excelência: é a vida do cotidiano. É o conhecimento que tudo flui, a coisas acontecem, que nos sentimos vivos, que sentimos a realidade. Já a ciência é uma atividade eminentemente reflexiva. Ela procura compreender, elucidar e alterar esse cotidiano, a partir de seu estudo sistemático.
Quando fazemos ciência, baseamo-nos na realidade cotidiana e pensamos sobre ela. Afastamo-nos dela para refletir e conhecer além de suas aparências. O cotidiano e o conhecimento científico que temos da realidade: aproximam-se, pois a ciência se refere ao real; e afastam-se, pois a ciência abstrai a realidade para compreendê-la melhor, ou seja, a ciência afasta-se da realidade, o que permite a construção do conhecimento científico sobre o real.
Ocorre que, mesmo o mais especializado dos cientistas, quando sai de seu laboratório, está submetido á dinâmica do cotidiano, que cria suas próprias “teorias” a partir das teorias científicas, seja como forma de “simplificá-las” para uso no dia-a-dia, ou como sua maneira peculiar de interpretar fatos. Todos nós vivemos a maior parte do tempo esse cotidiano e as suas teorias, ou seja, aceitamos as regras do seu jogo.
O fato é que uma dona de casa, quando usa a garrafa térmica para manter o café quente, sabe por quanto tempo ele permanecerá razoavelmente quente, sem fazer nenhum cálculo complicado e, muitas vezes, desconhecendo completamente as leis da termodinâmica.
Nós mesmos, quando precisamos atravessar uma avenida movimentada, sabemos perfeitamente medir a distância e a velocidade do automóvel que vem em nossa direção. Esse tipo de conhecimento que vamos acumulando no nosso cotidiano é chamado de senso comum.
A necessidade de acumularmos esse tipo de conhecimento espontâneo parece-nos óbvia. O senso comum percorre um caminho que vai do hábito à tradição, passa de geração para geração. É nessa tentativa de facilitar o dia-a-dia que o