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A REBELIÃO DAS MASSAS
José Ortega y Gasset por Roberto Fendt
I. O ADVENTO DAS AGLOMERAÇÕES
Há um fato que, para bem ou para mal, é o mais importante na vida pública européia atual: a ascensão das massas ao completo poder social. Como as massas, por definição, não são capazes de dirigir sua própria existência, e menos ainda dirigir a sociedade, esse fato implica que atualmente a Europa está sofrendo a crise mais grave que pode acometer aos povos, nações e culturas. Seu nome é a rebelião das massas.
É preciso distinguir massa de multidão, conceito visual. A multidão é conceito quantitativo e visual. Já a sociedade é uma unidade dinâmica de dois fatores: minorias e massas. Minorias são indivíduos ou grupos de indivíduos especialmente qualificados, que estão sempre a superar-se; a massa é o conjunto de pessoas não qualificadas, a que podemos denominar “homem médio”.
Passa-se assim de uma quantidade – a multidão – a uma definição qualitativa: é a qualidade comum aos homens que não se diferenciam uns dos outros, mas que caracteriza sim um tipo genérico. É quem não se valoriza; que se sente “como todo o mundo” e que se sente bem sentindo-se idêntico aos demais.
É característico do nosso tempo o predomínio da massa e do vulgar. Mesmo na vida intelectual, que por sua própria essência requer a qualificação, nota-se o triunfo dos pseudo-intelectuais desqualificados. Ora, há atividades na sociedade que requerem minorias com qualificações especiais para seu bom desempenho. Contudo, o fato novo é que a massa passou também a executar essas atividades.
A velha democracia combinava liberalismo e entusiasmo pela lei. As minorias podiam atuar e viver ao amparo do princípio liberal e da norma jurídica. Hoje triunfou uma democracia hipertrofiada, em que a massa atua diretamente sem lei, por meio de pressões materiais, impondo suas aspirações e seus gostos. A massa atropela tudo que é diferente, egrégio, individual,