Senhor
ELÉTRICOS DAS CÉLULAS
NERVOSAS
A
s células vivas dependem de uma
série de reações químicas em seu interior, que, delicadamente articuladas entre si, em sequência ou em paralelo, operam para manter o frágil equilíbrio dinâmico que significa “estar vivo”. Esse incessante turbilhão bioquímico libera energia quebrando ligações químicas de nutrientes ingeridos, constrói e reconstrói biopolímeros como proteínas, ácidos nucleicos, lipídios e glicídios, e também desfaz e descarta os restos destas substâncias, uma vez que qualquer biomolécula é funcional apenas por um tempo limitado dentro das células.
Mas a atividade biológica não envolve apenas reações químicas, embora estas estejam sempre na origem da captação e distribuição de energia e síntese de constituintes moleculares em qualquer organismo vivo. Podemos encontrar também atividades biológicas derivadas: elétrica, mecânica (movimentos, comportamentos), térmica (especialmente nos vertebrados endotérmicos) e até luminosa (bioluminescência). Aliás, muito antes de se ter clareza sobre a natureza bioquímica da vida, achava-se que o impulsionador deste processo – o chamado élan vital – era a própria eletricidade. Não é a toa que a história do descobrimento da eletricidade confunde-se com os primórdios da própria biologia, com a disputa acirrada, no século XVIII, entre Galvani e Volta acerca da natureza da
Jorge A. Quillfeldt
Departamento de Biofísica, IB, URGS
eletricidade (Figura 1). Sob esta inspiração, hoje ultrapassada, a literatura fantástica do século XIX nos legou o clássico de Mary
Shelley, Frankenstein, uma criatura artificial contruída a partir de tecidos mortos e animada por... eletricidade!
Os fenômenos bioelétricos podem envolver tanto a geração, quanto o resultado da ação de campos ou correntes elétricas sobre os processos biológicos. Em vertebrados como os humanos, são particularmente notáveis em três tipos de tecidos, o neural