Segmento conservador brasileiro
Em uma propaganda de sabonete não se vende apenas um pedaço de sabão. Promove-se também um estilo de vida, um comportamento, uma opinião. A mulher é feliz porque tem um namorado bonito que a leva para jantar e repara na sua pele macia e perfumada. Estamos acostumados desde que nos conhecemos por gente a ver isso. Mas causaria espanto se essa mulher que usa o sabonete aparecesse em casa rodeada por três ou mais filhos e dissesse: “A minha felicidade é viver para meus filhos”. Por quê? Quem fabrica o sabonete e a agência de publicidade que o divulga querem entender quem é a mulher brasileira que pode comprar o seu produto e buscam um cenário que identifique e represente os valores e os sonhos dessa mulher. Como isso é feito? Em boa parte por impressões. Sim isso mesmo! Outros, mais ou menos conscientemente, desejam divulgar o comportamento que gostariam que se tornasse realidade. É assim com qualquer produtor de conteúdo: lê o seu manifesto. E há também pesquisas de mercado que podem fazer uma boa aproximação do perfil dos entrevistados, mas também podem errar bastante. Afinal, uma pesquisa pode obter os dados que queremos alcançar. Tudo depende do modo como são elaboradas as perguntas, do modo como é aplicada, do tipo de amostra e da interpretação dos dados obtidos. Isso explica os estereótipos a que estamos acostumados. O pobre informal, brega, que gosta de pagode e samba; o rico sofisticado que se veste bem, gosta de jazz e não é religioso; o jovem irreverente, esportista, que gosta de festas e garotas. A partir de um par de idéias, de pouco contato com o chão, e a base de muitas repetições acabamos por nos convencer de que esses estereótipos retratam a realidade e funcionam. O que gostaria de sustentar é que existe no meio empresarial e publicitário uma grande deturpação sobre os valores de muitos dos seus clientes. Quando digo valores, refiro-me a esses princípios, crenças e certezas que todos nós temos, que apontam aquilo