Seculo XXI no Brasil
1968 é um momento emblemático em que os movimentos sociais expõem a crise da política representativa moderna e do seu correlato, a sociedade disciplinar, vindas do final do século XVIII e que se arrastaram, não sem agudos problemas, no século XX. Das barricadas de 1968 não saiu, no entanto, a reinvenção da política para além dos partidos, como era protagonizado pelos círculos mais ativos. Após a repressão, os poderes instituídos incorporaram algumas pautas e a maior parte dos movimentos se institucionalizou, sendo reconhecidos como atores políticos. O impulso para fora da lógica da política representativa foi brecado, mas, a partir daí, partidos e sindicatos cada vez mais se tornaram meio zumbis, com existência espectral, simulacro de representação social.
A onda de manifestações em curso no Brasil alinha finalmente o país com as formas de protesto que vêm se desenvolvendo em várias partes do mundo. “Ocupe Wall Street” e seus desdobramentos em outras cidades norte-americanas, os “indignados” nas praças espanholas e seus ecos em Portugal e na Grécia, a chamada “primavera árabe”, com a derrocada dos governos na Tunísia e no Egito, os protestos na Turquia, todos expressam tentativas de reinvenção das práticas de mobilização política, marcadas pela intensa utilização das redes sociais, instantaneidade e horizontalidade, ultrapassando na prática política toda a estrutura dos instrumentos de representação, caracterizados de maneira oposta pela organização de instituições, verticalização hierárquica, programa de ação.
No entanto, outra ponta dos movimentos se desenvolvia de maneira quase silenciosa, de maneira fragmentária e descontínua, irrompendo com força nos protestos antiglobalização em Seattle, 1999. Ali, a pluralidade de demandas, a horizontalidade da organização, a instantaneidade, o momento, eram a tônica dessa nova “urgências das ruas”, que é principalmente uma urgência de redefinição da política. Após conjuntura difícil depois do 11