Schopenhauer
EM SCHOPENHAUER
Jair BARBOZA1
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RESUMO: O presente texto intenta mostrar que o modo de conhecimento estético em Schopenhauer funciona como um poder de crítica à racionalidade instrumental da ciência regida pelo princípio de razão.
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PALAVRAS-CHAVE: Schopenhauer; sujeito do conhecimento; princípio de razão; modo de conhecimento estético.
I
A frase de abertura da obra magna de Schopenhauer, O Mundo como
Vontade e como Representação, soa: “o mundo é minha representação”.
Para o autor, esta é uma verdade válida para qualquer ser que vive e conhece, embora só o homem possa trazê-la à consciência refletida e abstrata. Fazendo-o, aparece a clarividência filosófica, com o que se torna claro que não se conhece sol algum, terra alguma, mas aí sempre é um olho que vê o sol, é uma mão que toca a terra etc. O mundo existe tão-somente como objeto em relação ao sujeito, intuição de quem intui, “numa palavra, representação”. Uma verdade que o autor identifica nas considerações céticas das quais partiu Descartes e em Berkeley, que a formulou explicitamente no seu célebre “ser é ser percebido”.
Schopenhauer, assim, ao render o seu tributo ao cogito cartesiano e ao idealismo berkeleyano, parte em sua teoria do conhecimento da represen-
1 Professor Adjunto do Departamento de Filosofia e do Programa de Pós-Graduação em Filosofia da
Pontifícia Universidade Católica do Paraná-PUC-PR. Artigo recebido em set/06 e aprovado para publicação em nov/06.
Trans/Form/Ação, São Paulo, 29(2): 33-42, 2006
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tação como primeiro fato, Tatsache, da consciência. Todavia, a forma primeira e essencial da representação é a divisão em sujeito e objeto, a forma do objeto sendo o princípio de razão, que reza que “nada é sem uma razão pela qual é”. Este princípio explica as coisas que nos aparecem, procura um fundamento, Grund para elas, porém não é passível de explicação alguma, tal exigência já pressupondo a validade do