Saúde
SENHORES DA CURA: negociações e conflitos no diversificado universo da cura no extremo norte do Brasil, 1889-1919 Silvio Ferreira Rodrigues1
Resumo: Na Amazônia da virada do século XIX para o século XX, apesar da repressão das autoridades públicas, uma grande diversidade de práticas de cura circulava em meio às mais variadas categorias sociais e étnicas que habitavam a capital e o interior do estado do Pará. Sujeitos “místicos” e remédios “maravilhosos” disputavam espaço com a medicina científica que buscava o monopólio do mundo da cura. Essa disputa entre diferentes “medicinas” tendeu a ficar mais acirrada ao longo dos anos, forçando os médicos acadêmicos e outros profissionais de áreas afins a organizarem-se em corporações profissionais com o objetivo de combater seus concorrentes, os quais, mais do que nunca, foram acusados de exercer ilegalmente a medicina. Palavras-chave: Amazônia. Artes de curar. Medicina científica. Pará.
Por muito tempo, antes mesmo que o prestígio da medicina científica nos parecesse intrínseco, uma grande variedade de concepções curativas circulavam em meio à população do Novo Mundo. Lá pela época colonial, por exemplo, quando o Brasil ainda era apenas mais uma das regiões sob domínio do vasto império português, práticas de cura provenientes dos mais diversos universos culturais corriam soltas por essas bandas. Santos Filho que o diga2. A medicina dita popular, praticada pelos curadores e herbários (que curavam doenças com uso de ervas e plantas medicinais), pelos feiticeiros, rezadores, benzedores e parteiras, era a terapêutica mais usada pela população nas suas enfermidades cotidianas. Seguindo a mesma linha de raciocínio, Pedro Nava acrescenta que, nesse tempo, a medicina no Brasil, devido à falta de médicos, decorrente de uma série de problemas, tinha de ser exercida, na sua maior extensão, por curandeiros, os quais aplicavam da maneira