Saúde mental e trabalho
Margarida Barreto
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Introdução
Neste artigo, tecerei algumas considerações sobre saúde mental, os modos de administrar e organizar o trabalho na atualidade e como podem estes novos modos influir em valores identitários e saúde dos trabalhadores e trabalhadoras, transformando-os em colaboradores ativos e competitivos, disciplinados e integrados, absorvidos no ideal da empresa-mãe, prontos a sacrificar-se em prol do sucesso empresarial como se fosse o seu.
Por assim pensar e agir, centra o olhar para si mesmo, faltando-lhe meios para compreender as causas do adoecer e morrer. Surpreendem-se com a cisão imposta pelo capital quando demitidos após acidentes, idas a médicos por doenças no horário da jornada, questionamentos de certas regras e normas geradoras de inquietações ante a intensificação do ritmo e excesso de tarefas a serem realizadas. Desta perspectiva, minha fala tem duas tarefas a cumprir: mostrar como as formas de organizar o trabalho acometem à saúde mental dos trabalhadores e suas conseqüências a família. Para isso, tomo como ponto de partida alguns elementos históricos relativos à compreensão do que denominamos saúde mental. Isto porque até o século XIX e ao longo das diferentes formações socioeconômicas, a saúde mental foi, e ainda continua sendo, motivo de discriminações, incompreensões, estigmas e preocupações. Desde a antiguidade, muitos filósofos como Platão, consideravam a consciência como “resultado de sensações subjetivas” e outros, uma
“manifestação da razão divina”. Contudo, foi a partir dos escritos de René Descartes, que tomou fôlego a idéia que o estudo científico do homem, deveria restringir-se ao corpo físico, cabendo ao filósofo o estudo de sua alma. A religião combateu tenazmente toda e qualquer manifestação materialista, afirmando que a consciência do homem era fruto de sua vida espiritual, e conseqüentemente, não obedecia às leis da