Saude e meio ambiente
MARTA G. PIGNATTI*
INTRODUÇÃO
Este artigo procura resgatar questões relacionadas às formas de abordagem da dimensão ambiental pela área de Saúde e a dinâmica de algumas doenças chamadas emergentes como produtos das relações humanas com o ambiente. A questão ambiental tem adquirido nos últimos anos uma importância maior devido a fatores globais, tais como o efeito estufa, o buraco da camada de ozônio, a poluição atmosférica e a perda da biodiversidade. No entanto, os problemas ambientais locais, tais como a degradação da água, do ar e do solo, do ambiente doméstico e de trabalho, têm impactado significativamente a saúde humana.
A existência de relações entre a saúde das populações humanas e ambiente já está presente nos primórdios da civilização humana, através dos escritos hipocráticos.
Ao despontar do século XIX, as cidades cresciam, sobretudo, devido à revolução industrial. A par disto, as condições de vida se deterioravam. O paradigma científico predominante era o de que as doenças provinham das emanações resultantes dos acúmulos de dejetos (miasmas). A teoria miasmática propiciou, no século XIX, a melhoria do ambiente urbano no mundo desenvolvido (ROSEN, 1994). A maioria dos estudiosos das condições de saúde alinhava-se a esta teoria. Snow, nos seus estudos sobre o cólera, foi um dos primeiros a defender a possibilidade de existência de agentes vivos microscópicos na gênese dessa doença (BARRETO, 1990). No final do século
XIX, com a descoberta do micróbio e o conceito de que agentes biológicos específicos eram a causa de determinadas doenças, as explicações relacionadas com o ambiente sofreram um grande retrocesso. Consolidou-se o conceito de unicausalidade
(BARRETO, 1990; ROSEN, 1994). A emergência da bacteriologia esclareceu o problema da causação biológica da doença e permitiu que, a partir de fins do século
XIX, os programas de saúde pública pudessem ser efetivados, ignorando a