SAUDE PUBLICA SUS
Celia Almeida
Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, Brasil. calmeida@ensp.fiocruz.br
O texto do Paim é um convite à reflexão.
Entender (e reconstruir) a gênese de qualquer evento é essencial, como bem assinala o autor, pois todo processo tem um "ponto de partida" (aparentemente conhecido) e um "ponto de chegada", que quase nunca é exatamente aquele que se pretendia, e significa, não raro, novas e permanentes reatualizações, numa história sem fim. Em se tratando de um processo político (formulação, criação e consolidação do SUS, como parte da luta pela democracia no Brasil) e acolhendo a reflexão sobre a "utopia prática" de Bourdieu, proposta pelo artigo, arrisco acrescentar algumas questões como contribuição ao debate, com o objetivo de problematizar o que se concretizou, entre os demais "desfechos" possíveis e, talvez, vislumbrar "alguma luz no fim do túnel".
Paim sintetiza os projetos políticos em luta durante a transição nos anos 1980 e as conjunturas adversas que arrefeceram os ímpetos reformistas originais, condicionando a criação, implementação e os impasses à consolidação do SUS, apesar dos avanços consideráveis na história da saúde no Brasil.
Ao mesmo tempo, o Brasil mudou muito desde a transição democrática. Qualificar essa mudança, com suas várias nuances em distintos momentos, é importante para entender os entraves à "reforma sanitária cidadã".
A partir da primeira década do novo século, os avanços nas políticas públicas e na política social são inegáveis 1, atestados por indicadores concretos, ainda que existam controvérsias.
Porém, como alerta Marilena Chauí 2 (p. 126) "em política, há ações e acontecimentos com força para se tornar simbólicos [...] e a democracia é a única forma política em cujo núcleo está a ideia