Sartre - vida e obra
O importante não é o que fazem de nós, mas o que nós próprios fazemos daquilo que fazem de nós. - Sartre.
O importante a assinalar, aqui, é que essas promessas não cumpridas, essa mobilidade ou mutabilidade constante da mente sartreana, são sintomas do elemento fundamental para a compreensão de Sartre como artista e intelectual, talvez o mais importante do século XX. Sartre forjou, transformou e amadureceu suas idéias em contato vivo e direto com os problemas mais importantes de nosso tempo. O que dá importância a sua obra é sempre a sensibilidade e presteza excepcional com que responde a esses problemas. Para experimentar, viver e agir no seu tempo, Sartre utilizou todos os meios que pode.
A trajetória de Sartre começa na crise dos valores ocidentais expressa em seu existencialismo original e desemboca no marxismo.
(Marxismo = é uma elaboração teórica, ditada pelas necessidades do proletariado, mas feita por intelectuais burgueses, grandes ou pequenos. Marx previu a atração que o chamado ponto de vista proletariado exercia no futuro sobre intelectuais pequeno-burgueses.). Sartre é, portanto, um intelectual pequeno-burgues que finalmente se aproximou do marxismo. Que tenta eliminar de sua mente todos os possíveis resíduos da visão de mundo burguês.
Sua adesão ao proletariado foi, antes de teórica, prática; sua contribuição teórica ao marxismo é, em conseqüência, crítica e criadora.
O objetivo, deste livro, é esclarecer brevemente essa experiência e essa práxis. Elas são a vida e a obra de Sartre. Compreender o processo que fez do autor de A Náusea, uma novela sobre a contingência racial do ser, o filosofo que declarou ser o marxismo "a filosofia insuperável de nosso tempo"; compreender o processo que levou esse fenomenólogo, existencialista e anti-determinista a descobrir que a razão dialética é, não uma ciência acabada, mas o instrumento mais agudo de apreensão da