Santo súbito
Juliana Zalamena
Mestranda em Ciência Política UFRGS
Há os que dizem que política, gosto pessoal, futebol e religião, não se discute, por que certamente dá encrenca. Porém, há os que gostam de uma boa encrenca. Nos últimos dias, tivemos inúmeras noticias de impacto mundial: tsunami no Japão, vazamento de radiação em Fukushima, casamento real, morte de Osama Bin Laden, e beatificação do Papa João Paulo II. Pouco mais de cinco anos após a sua morte, Karol Wojtyla é tornado beato pelo Vaticano, tendo a Igreja Católica reconhecido um milagre de sua autoria, relatado por uma freira francesa que diz ter curado-se de uma doença grave após invocar o nome de João Paulo II. Não tenho dúvidas, que logo a comunidade de fiéis católicos terá um santo contemporâneo a venerar, pois a beatificação, ocorrida em tempo recorde, é o primeiro passo para a santificação.
Eu não sou exatamente o que pode se caracterizar de uma pessoa religiosa e muito menos católica. Se acredito em Deus? Sim, eu acredito, porém, não pretendo institucionalizá-lo, colocá-lo dentro de um conjunto de normas, regras, preceitos, dogmas, ou seja, “um quadrado” com fronteiras delimitadas a qual se possa chamar de religião. Antes mesmo dos meus doze anos, enquanto minhas colegas de escola tentavam entender o livro da catequese, eu lia livros grossos, velhos e empoeirados da biblioteca sobre as Cruzadas, os Templários, a Santa Inquisição, e este último tema era meu preferido: como a Igreja matou milhares de pessoas sob a acusação de bruxaria, heresia, ou simplesmente, de serem judeus, por exemplo.
Mulheres parteiras que usavam ervas para aliviar a dor do parto, ou que tinham conhecimentos homeopáticos (as curandeiras), foram queimadas vivas em fogueiras em praças públicas acusadas de bruxas (aconteceu no Brasil). O fascínio por este tipo de leitura levou a adquirir muito cedo, um olhar crítico, um questionamento permanente, sobre as monstruosidades e atrocidades cometidas no mundo em nome da fé,