Santo Anselmo
Trilhando o sólido caminho de Santo Agostinho, Anselmo seguia também o seu credo ut intelligam, ou "creio para entender".
Essa postura, que permeia toda a fase inicial da Escolástica, afirma que o homem só é capaz de apreender as coisas quando assistido pela fé. Nenhum problema nessa época tem sentido sem, antes, partir da fé, do conhecimento superior, do divino, que é o que dá segurança às investigações filosóficas.
O lema de Anselmo é "a fé que procura entender" (fides quaerens intellectum). Como místico que também era, afirmava que o amor é um dos valores mais altos do conhecimento, pois é o amor que dá sentido à fé. A fé sem o amor é uma fé morta (otiosa fides). Sem o amor, a inteligência não tende para dentro do objeto do conhecimento.
Os diálogos - a verdade, a justiça e a liberdade
Inspirados no estilo platônico, os diálogos anselmianos são dirigidos a um melhor entendimento da Escritura e, consequentemente, de Deus. Cada um deles levanta um importante problema teológico e exerce a investigação metafísica necessária para resolvê-lo, desenvolvendo uma profunda conversa entre discípulo e mestre.
No diálogo "A Verdade", Anselmo argumenta que a verdade é a retidão do objeto percebida pela mente. E o que é a retidão? É algo ser o que é. Deus é a máxima retidão, a verdade suprema e eterna, é o que é infinitamente e que dita como tudo deve ser (conforme a metáfora neoplatônica, é o sol que ilumina).
A justiça, por sua vez, é uma subcategoria da verdade: a retidão não da mente à coisa, ou da coisa a si mesma, mas da vontade à coisa. A vontade reta é a vontade que deseja aquilo que se deve desejar.
No diálogo "A Liberdade de Arbítrio", Anselmo define o livre-arbítrio como a "capacidade de pecar e não pecar", ou o "poder de preservar a retidão da vontade em razão da própria retidão". Delineia-se, assim, uma correlação entre liberdade, verdade e justiça.
A verdade para Anselmo não está somente na conformação dos nossos juízos à