Salgado, manoel luiz. escrever a história, domesticar o passado. in: lopes, antonio h. história e linguagens. rio de janeiro: 7 letras, 2006, p. 45-58.
“Configurando uma possibilidade: A narrativa histórica” * “[...] Ulisses escuta a narrativa de suas próprias experiências narradas pelo aedo dos feácios de nome Demódoco, que engendra nos ouvintes diferentes reações: aos feácios causa prazer e deleite; a Ulisses, não identificado pelos presentes como ele mesmo, lágrimas, que busca esconder dos presentes na cena” (46) [essas diferentes reações, segundo Salgado se dão pelo fato de que Ulisses vivenciou e protagonizou os acontecimentos relatados pelo aedo; já a platéia encara como uma aventura vivida por outrem, e apenas esperam extasiados pelo desenrolar da narrativa que naquele momento os encanta]; * [Ainda discorrendo sobre o que Ulisses sentiu ao ouvir suas aventuras sendo narradas pelo aedo Salgado cita:] “Como assinalado por Hartog, Ulisses se encontra na peculiar posição de quem escuta sobre seus feitos como se estivesse morto, ausente.” (46); * “[...] desenha-se [...] a possibilidade de encontro com a historicidade, momento de tensão entre o narrado e experienciado, jogo sutil entre o ato de reconhecimento e paralelamente estranhamento.” (46) [essa seria a tensão passada por Ulisses ou ouvir a narrativa de suas aventuras, reconhecendo e ao mesmo tempo estranhado a narrativa em que ele é o protagonista, mas não o narrador.]; * “O trabalho da narrativa histórica, é [...], o de ordenar, dar forma e torna significativo um conjunto disperso de experiências e vivências segundo certos padrões e dispositivos capazes de serem aprendidos por uma comunidade de leitores/intérpretes. Mas ao fazê-lo opera necessariamente a partir de um trabalho de domesticação desse passado segundo necessidades e demandas que não são evidentemente as do próprio passado.” (47) [Nessa passagem Salgado destaca para seus leitores a importância e a caracterização da narrativa