saia da matrix
Por Salah Khaled Jr. e Alexandre Morais da Rosa
Sessenta alunos aborrecidos escutam enquanto o professor – sentado em uma mesa que claramente o diferencia de seus
pupilos – lê de forma magisterial um código comentado, dispositivo por dispositivo. O tédio impera, mas o foco
pragmático no objetivo garante que não abandonem o curso. Afinal, serão formados em Direito, o que significa que
poderão disputar inúmeros concursos.
Em outro lugar, o professor alegremente expõe todos os “macetes” necessários para que os alunos eventualmente
obtenham sucesso e efetivamente consigam fazer parte da máquina burocrática judicial: L I M P E, P I L, (C)orno (N)
unca (J)ulga (possui 15 letras) e assim por diante. Diz a lenda que até “ai se eu te pego” rola. Os alunos alegremente se
divertem com o espetáculo circense protagonizado pelo professor e sinceramente acreditam que caminham a passos
largos para um futuro de sucesso.
As cenas acima descritas são comuns nos mais distantes recônditos do país, nas milhares de salas de aula em que o
processo de (de)formação jurídica acontece diariamente. A graduação em Direito acaba sendo constituída pelo estudo
sistemático de dispositivos legais e dos macetes necessários para decorá-los. Tudo isso em palestras regularmente
ministradas por anos a fio. Alguns professores são péssimos palestrantes e outros são verdadeiros entertainers
travestidos de educadores. Mas a educação – ou um ensino educativo, como diria Morin – raramente acontece, senão
como exceção diante da mesmidade das coisas e do sonambulismo dogmático que impera.
Muitos alunos não tem compromisso acadêmico: não só jamais foram estimulados para a pesquisa como muitas vezes
querem saber apenas o que “cai na prova da OAB” ou em concursos. E o professor encontra-se num dilema. Se
procura dotar os acadêmicos de meios mínimos para poderem