Sagarana
Com o tempo, Guimarães Rosa foi depurando ("enxugando") o livro , até a versão que veio à luz em 1946, reduzindo-a das quinhentas páginas originais, para cerca de trezentas na versão definitiva.
O título do livro, Sagarana, remete-nos a um dos processos de invenção de palavras mais característicos de Rosa- o hibridismo. Saga é radical de origem germânica e significa "canto heróico", "lenda" ; rana vem da língua indígena e quer dizer "à maneira de " ou "espécie de "
A obra de Guimarães Rosa apresenta um regionalismo de novo significado: a fusão entre o real e o mágico, de forma a radicalizar os processos mentais e verbais inerentes ao contexto fornecedor de matéria-prima, traz à tona o caráter universal. O folclórico, o pitoresco e o documental cedem lugar a uma maneira nova de repensar as dimensões da cultura, flagrada em suas articulações no mundo da linguagem.
De cunho regionalista, Saragana surpreendeu a crítica e levou o escritor ao renome, em virtude da originalidade de sua linguagem e de suas técnicas narrativas, que apontavam uma mudança substancial na velha tradição regionalista.
Voltada para as forças virtuais da linguagem, a escritura de Guimarães Rosa procede abolindo intencionalmente as barreiras entre narrativa e lírica, revitalizando recursos da expressão poética: células rítmicas, aliterações, onomatopéias, rimas internas, elipses, cortes e deslocamentos sintáticos, vocabulário insólito, com arcaísmos e neologismos, associações raras, metáforas, anáforas, metonímias, fusão de estilos.
As estórias desembocam sempre numa alegoria, e o desenrolar dos fatos prende-se a um sentido ou "moral", à maneira das