##sabes
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Capítulo 3
O ingresso nas culturas da escrita (Artigo publicado na revista Bambini, ano XXI, n. 2, de fevereiro de 2005, traduzido do italiano por Fernanda Landucci Ortale e Ilse Paschoal Moreira, com a revisão técnica de Ana Lúcia Goulart de Faria.).
Emilia Ferreiro
As crianças são capazes de pensar e de compreender e têm o direito à cidadania na escrita
Este título, "O ingresso nas culturas da escrita", no plural, porque com muita freqüência, quando se fala de escrita, se pensa unicamente na escrita alfabética e no alfabeto latino. Embora não possa falar com pleno conhecimento das outras culturas da escrita, lembremo-nos, desde já, que a chamada cultura ocidental foi a última das grandes culturas a descobrir a importância da escrita, depois das culturas da China, do Vale do Hindo, do Egito e dos povos da antiga Mesopotâmia. Devemos considerar, porém, que tais escritas passaram por diversas peripécias, que algumas delas ainda são usadas e que somos herdeiros das transformações pelas quais a escrita mesopotâmica passou até chegar ao alfabeto.
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Os sistemas de escrita são diferentes, como o são também os usos sociais. Na história, o controle da escrita sempre esteve muito ligado ao exercício do poder. E, de alguma maneira, essa ligação continua a existir, apesar da democratização das práticas de escrita ligadas à educação obrigatória. Quando falamos do ingresso na cultura escrita, pensamos imediatamente na aprendizagem escolar e, freqüentemente, pensa-se na leitura como decodificação e na escrita como cópia repetitiva de sinais gráficos. O aspecto mais interessante do contato com a escrita (ou seja, o poder "dizer por escrito") deve, aparentemente, vir depois, depois que a técnica tiver sido dominada. O