Saber local
Manuela Carneiro da Cunha
Semelhanças | * “Ambos são formas de procurar entender e agir sobre o mundo. E ambos também são obras abertas, inacabadas, se fazendo constante”. * “Quanto a Lévi-Strauss, ele também afirma [...] que saber tradicional e conhecimento científico repousam ambos sobre as mesmas operações lógicas e, mais, respondem ao mesmo apetite de saber”. | Diferenças | * Ao contrário dos saberes tradicionais, “a ciência não passa ao largo de seus praticantes, ela se constitui por uma série de práticas e estas certamente não se dão em um vácuo político e social”. * “Não há dúvida, no entanto, de que o conhecimento científico é hegemônico”, enquanto os saberes tradicionais são tidos como inferior. * “Não há lógicas diferentes, mostrou Evans-Pritchard [...], o que há são premissas diferentes sobre o que existe no mundo. Dada uma ontologia e protocolos de verificação, o sistema é de uma lógica impecável a nossos olhos”. * “As diferenças, afirma Lévi-Strauss, provêm dos níveis estratégicos distintos a que se aplicam. O conhecimento tradicional opera com unidades perceptuais [...], com as assim chamadas qualidades segundas, coisas como cheiros, cores, sabores… No conhecimento científico, em contraste, acabaram por imperar definitivamente unidades conceituais. A ciência moderna hegemônica usa conceitos, a ciência tradicional usa percepções. É a lógica do conceito em contraste com a lógica das qualidades sensíveis”. * “A confidencialidade e o monopólio, por exemplo, que fazem parte do sistema ocidental contemporâneo de direitos de propriedade intelectual, se estendidos a todos os regimes de conhecimentos tradicionais, podem ser causa de sérias distorções. Não que estes, por definição, sejam considerados coletivos, muito pelo contrário. Os sistemas tradicionais têm suas próprias regras de atribuição de conhecimentos, que podem ou não ser coletivos, esotéricos ou exotéricos.