Rupturas entre o Presente e o Passado
Leituras sobre as concepções de tempo de Koselleck e Hannah Arendt
José D’Assunção Barros*
Resumo
Este artigo tem por objetivo desenvolver uma análise das recentes reflexões acerca das sensações contemporâneas de ruptura entre presente e passado, examinando, em particular, o pensamento de dois autores – Reinhart Koselleck e Hannah
Arendt – sobre as relações entre presente, passado e futuro.
O ponto de partida da análise refere-se ao ensaio Futuro passado, escrito por Koselleck – um ensaio no qual este historiador desenvolve suas principais considerações acerca das três instâncias da temporalidade, utilizando os conceitos de “espaço de experiência” e “horizonte de expectativa”. Em seguida, é estabelecida uma comparação entre a posição de
Koselleck e o pensamento de Hannah Arendt em torno dessas questões, desenvolvido por esta filósofa com base em um insight de Franz Kafka.
Palavras-chave: presente, passado, Koselleck, Hannah Arendt, Franz Kafka.
* Professor-adjunto da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, nos cursos de
Graduação e Pós-Graduação em História. Professor Colaborador do Programa de Pós-Graduação em História Comparada da UFRJ. Doutor em História pela Universidade
Federal Fluminense.
Revista Páginas de Filosofia, v. 2, n. 2, p. 65-88, jul/dez. 2010
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RUPTURAS ENTRE O PRESENTE E O PASSADO
A enigmática relação entre as três instâncias da temporalidade –
“Passado”, “Presente” e “Futuro” – tem sido de há muito tempo objeto de reflexão de filósofos e historiadores. Mesmo na Antiguidade, Santo Agostinho e Aristóteles já dedicavam ao “tempo” reflexões importantes que até os anos mais recentes têm servido como patamares de diálogos para filósofos contemporâneos como Heidegger (1927) e Paul Ricoeur (1983-85). O enigma do tempo e de sua adequação à história humana, uma questão que não poderá ser aprofundada aqui em todas as suas implicações, tem de fato atravessado os séculos, acompanhando a história da filosofia