rubem alves

752 palavras 4 páginas
OS SÍMBOLOS DA AUSÊNCIA

O homem e a única criatura que se recusa a ser o que ela é”.

(Albert Camus)

Através de centenas de milhares de anos os animais conseguiram sobreviver por meio da adaptação física. Os seus dentes e as suas garras afiadas, os cascos duros e as carapaças rijas, seus venenos e odores, os sentidos hipersensíveis, a capacidade de correr, saltar, cavar, a estranha habilidade de confundir-se com o terreno, as cascas das árvores, as folhagens, todas estas são manifestações de corpos maravilhosamente adap­tados à natureza ao seu redor. Mas a coisa não se esgota na adaptação física do organismo ao ambiente. O animal faz com que a natureza se adapte ao seu corpo. E vemos as represas cons­truídas pelos castores, os buracos-esconderijo dos tatus, os formigueiros, as colméias de abe­lhas, as casas de joão-de-barro... E o extraordinário é que toda esta sabedoria para sobreviver e arte para fazer seja transmitida de geração a geração, silenciosamente, sem palavras e sem mestres. Lembro-me daquela vespa caçadora que sai em busca de uma aranha, luta com ela, pica-a, paralisa-a, arrastando-a então para o seu ninho. Ali deposita os seus ovos e morre. Tempos depois as larvas nascerão e se alimentarão da carne fresca da aranha imóvel. Crescerão. E sem haver tomado lições ou freqüentado escolas, um dia ouvirão a voz silenciosa da sabedoria que habita os seus corpos, há milhares de anos: "Chegou à hora. É necessário buscar uma aranha..."

E o que é extraordinário é o tempo em que se dá a experiência dos animais. Moluscos parecem fazer suas conchas hoje da mesma forma como o faziam há milhares de anos atrás. Quanto ao joão-de-barro, não sei de alteração alguma, para melhor ou para pior, que tenham introduzido no plano de suas casas. Os pintassilgos cantam hoje como cantavam no passado, e as represas dos castores, as colméias das abelhas e os formigueiros tem permanecido inalterados por séculos. Cada corpo produz sempre a mesma coisa. O animal é o seu

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