Rotina do clero
O clero constituía uma classe aberta , na medida em que os seus membros eram recrutados entre o povo e a nobreza. Não era uma classe homogénea e há que distinguir entre o alto clero (bispos, abades e outros dignitários) e o baixo clero . Pela riqueza, pelo poder, pela consideração social e até pela origem, os altos dignitários da Igreja estão muito perto da nobreza, onde quase sempre são recrutados. Por sua vez muitos curas de aldeia mal se distinguem dos seus paroquianos, partilhando com eles a pobreza e a ignorância.Por esse motivo, as relações entre a hierarquia e o baixo clero nem sempre eram pacíficas. No entanto, os seus membros tinham em comum a função religiosa. Constituía uma classe privilegiada : possuía isenção de impostos; regia-se por um direito próprio e tinha tribunais específicos; possuíam direitos sobre certos estratos populares na área sob seu domínio.Pela natureza das suas funções constituíam a classe mais culta , a única sistematicamente alfabetizada, o que explica que a cultura literária da Idade Média seja marcadamente religiosa.O seu poder tinha uma origem divina; por isso, o clero resistia ao poder régio e, por vezes, tendia a suplantá-lo. Em Portugal, por exemplo, o rei D. Sancho II foi afastado do trono por interferência directa do Papa, tendo sido substituído pelo irmão, o Conde de Bolonha, com o nome de Afonso III. Este episódio, aliás, está na origem de um número substancial de cantigas de escárnio e maldizer, como a seu tempo se verá.
Nobreza
Ao contrário do clero, era uma classe fechada , visto que a condição de nobre herdava-se com o nascimento — era nobre o filho de nobre. No entanto, o rei podia nobilitar membros destacados da burguesia, como forma de recompensar os seus serviços.Também não era uma classe homogénea . No século XII existiam ricos-homens , infanções e cavaleiros . Dois ou três séculos depois continuamos a encontrar nela estratos diferenciados, embora com designações diferentes: vassalos do rei , cavaleiros