Roteiro da peça anjo negro de nelson rodrigues
Personagens:
Ismael
Virginia
Elias
Ana Maria
Tia
Primas
Criada (Hortênsia)
Coveiro de crianças
Coro das pretas
Primeira Cena
{Na casa de Ismael realiza-se um velório, com um pequeno caixão de “anjo”- de seda branca- com quatro velas em volta; em um semicírculo se encontra cinco senhoras pretas que ficam rezando}.
TODAS começam a rezar ave-maria.
{Ismael –vestindo um terno branco- aproxima-se do caixão do filho para ver seu rosto. Imediatamente todas se calam. Na parte de fora, aparece um jovem, logo se percebe que ele é cego. Surgem em seguida quatro negros que se espantam com a presença do cego. Negros seminus, com chapéu de palha e charuto.}.
Segunda Cena
COVEIRO 1: (com certo humor) – Pulou o muro, ceguinho?
ELIAS (espantado)- O portão estava aberto.
COVEIRO 1:- Esta se arriscando, companheiro. O homem não gosta que brancos entrem aqui.
COVEIRO 2: Esta vendo esses muros? Ah, você é cego. Ismael cercou por que não quer visitas.
ELIAS (sussurrando):- Então é ele.
COVEIRO 2: O que disse?
ELIAS: Nada.
COVEIRO 2: Nós só estamos aqui porque somos lá do cemitério. Vamos levar o filho do homem que morreu.
ELIAS: E ele se chama Ismael?
COVEIRO 1: O doutor? Sim. Ele é medico.
ELIAS: E ele é preto, não é mesmo?
COVEIRO 1: Mas de muita competência. Mas tome um conselho, não o chame de preto senão ele logo se irrita.
ELIAS (para si mesmo):- Quer ser branco! Não perde mesmo essa mania. (muda o tom) E a mulher é de cor?
COVEIRO 1: - Muito pelo contrario. Ela é branca, e depois que se casou nunca mais a vi.
ELIAS: - (para si mesmo) Eu já sabia, só podia ser branca, (muda de tom) eu preciso falar com ele.
COVEIRO 2:- Com o doutor? Melhor não.
ELIAS:- Sou parente dele.
{Elias caminhando sozinho.}.
ELIAS: Nem parece que uma criança morreu aqui, não ouço choro e nem grito nenhum.
Terceira Cena
{Entrando na casa por trás.}.
ISMAEL: O que faz aqui?
ELIAS: - (indo ao encontro do irmão) Soube que seu filho