Rosenberg 1982 Cap
QUÃO
EXÓGENA É A CIÊNCIA?*
I
Começarei recordando a visão de Kuznets de que o traço distintivo das modernas sociedades industrializadas é seu sucesso na aplicação do conhecimento sistemático à esfera econômica, conhecimento esse derivado da pesquisa científica.1 Essa visão tem um aspecto desconcertante, ao menos para um economista, na medida em que parece fazer da característica central do moderno crescimento econômico um fenômeno exógeno. Se é realmente assim que o mundo funciona, então nós deveríamos reconhecê-lo graciosamente e aceitar o fato de que os principais determinantes de um fenômeno econômico central se encontram fora do campo de análise do economista. Hoje em dia, os economistas têm muitas razões para ser
* Este artigo foi apresentado numa conferência da Universidade de Harvard em abril de 1981, em comemoração ao octogésimo aniversário do nascimento de Simon Kuznets. Baseia-se, em parte, em pesquisas realizadas nos Bell Laboratories, em Murray Hill, New Jersey. Sua formulação atual beneficiouse dos incisivos comentários de Moses Abramowitz.
1 Ver, por exemplo, Simon Kuznets, Modern Economic Growth (Yale University Press, New Haven, Conn.,
1966), cap. 1.
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N .E.: os Editores agradecem à Editora da UNICAMP , que gentilmente cedeu o material para publicação na RBI , e ao professor José Emílio Maiorino, responsável pela tradução.
Revista Brasileira de Inovação
Nathan Rosenberg
N AT H A N RO S E N B E R G
humildes, e talvez uma razão a mais não seria marginalmente penosa demais.
Por outro lado, talvez não precisemos ser assim tão humildes.
Se não insistirmos em formular uma definição excessivamente restritiva do objeto de nossa disciplina, talvez seja possível identificar algumas cadeias causais significativas estendendo-se da vida econômica até a ciência, e também da ciência para a vida econômica. É isso, de fato, que me proponho a fazer aqui. Minha argumentação envolve, em primeiro lugar, a admissão da tecnologia na arena das variáveis