Romanceiro da Inconfidência
Romanceiro da Inconfidência, publicado em 1953, é um longo poema narrativo, que procura na História da pátria sua matéria inspiradora. Nessa obra, CM procura evocar os tempos de ouro e da Inconfidência Mineira [1789]. De todas as publicações da autora, o Romanceiro da Inconfidência é a única que mostra o rompimento do círculo do próprio "eu", criando uma poesia menos pessoal, mais identificada com o mundo exterior que propriamente com o universo íntimo e secreto da artista. Mesmo assim, em alguns momentos percebe-se claramente certas projeções subjetivas, que rompem com a mera retratação de cena ou de fatos verídicos.
Antes de analisarmos a obra, devemos chamar a atenção para a forma do romanceiro, que é uma composição estíquica [sucessão de versos não sujeitos à estrofação regular], de extensão indeterminada, surgida por volta do século XIV, em versos assonantados [mesmo que toantes, nos quais há correspondência sonora da última vogal tônica e das que lhe seguem], geralmente de sete silabas [redondilho maior], de cinco silabas [redondilho menor], ou de dez silabas [romance heroico em verso heroico]. No Romanceiro da Inconfidência, temos 85 romances, além das "falas" do narrador e dos Cenários. Chamamos romance cada uma das partes do romanceiro. É bom lembrar que essa forma poética medieval deu origem ao romance de prosa, por causa de seu caráter normalmente narrativo.
Vejamos a seguir essa espécie épica que foi tão pouco praticada em Língua Portuguesa:
CENÁRIO
PASSEI por essas plácidas colinas [A]
e vi das nuvens, silencioso, o gado [B]
pascer nas solidões esmeraldinas. [A]
Largos rios de corpo sossegado [B]
dormiam sobre a tarde, imensamente, [C]
- e eram sonhos sem fim, de cada lado. [B]
Entre nuvens, colinas e torrente, [C]
uma angústia de amor estremecia [D]
a deserta amplidão na minha frente. [C]
Que vento, que cavalo, que bravia [D]
saudade me arrastava a esse deserto [E]
me