Rolezinho (uol)
Rosana Pinheiro-Machado é antropóloga e professora da Universidade de Oxford, na Inglaterra
Para a antropóloga e professora da Universidade de Oxford, na Inglaterra, Rosana Pinheiro-Machado, fechar os shoppings para os "rolezinhos" é apartheid - ela faz referência ao regime de segregação racial adotado na África do Sul na segunda metade do século 20. "No fundo, o que se teme é ver o que antes não se via: a periferia negra, a pobreza e a desigualdade", afirma.
Ela pesquisa, ao lado da também antropóloga Lucia Scalco, o consumo de jovens da periferia brasileira. "Nosso trabalho consiste em acompanhar a ida (extraordinária) aos shoppings e a vida (ordinária) no morro", explica.
Leia a seguir a entrevista da pesquisadora sobre os "rolezinhos" em shoopings de São Paulo:
UOL - Na sua opinião, por que os shoppings foram escolhidos para os "rolezinhos"?
Rosana Pinheiro-Machado - É a ocupação de um templo do consumo. O objetivo é justamente o consumo. Tudo começou como distração e diversão: se arrumar, sair, se vestir bem. Existe toda uma relação com as marcas e com o consumo, num processo de afirmação social e apropriação de espaços urbanos. Ir ao shopping é se integrar, pertencer à sociedade de consumo.
UOL - Como você explicaria o medo entre lojistas, frequentadores e donos de shoppings?
Pinheiro-Machado - Uma resposta simplista seria dizer que é o medo do assalto, embora não esteja ocorrendo, e a sensação de arrastão. Mas a verdade é que os lojistas e frequentadores se sentem ameaçados. O shopping sempre foi uma redoma, um lugar das elites e das camadas médias. De repente, essa paz e essa fronteira foram abaladas e no fundo se teme ver o que antes não se via: a periferia negra, a pobreza e a desigualdade.
UOL - A proibição dos rolezinhos estaria correta? O que a atitude dos administradores de shoppings representa?
Pinheiro-Machado - Completamente errada. Eles são potenciais consumidores? Como